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Como o Estresse Crônico afeta na sua Saúde Mental

Como o Estresse Crônico afeta na sua Saúde Mental.

 

  • Stress

Hoje em dia, existem muitos estudos comprovando que o stress tem um grande impacto na saúde, tanto física como mental. Está implicado na aceleração da idade biológica e associado a uma mortalidade prematura.22

É vital encontrar um equilíbrio na dinâmica entre o trabalho e o lazer. Apesar de não ter sido avaliado adequadamente que a prática de atividades que dão prazer podem ajudar a melhorar a Depressão, é plausível ter em conta este aspeto. De igual modo uma boa interação social e laços familiares fortes são bases imprescindíveis para uma boa saúde mental.2

De acordo com várias teorias contemporâneas da Depressão, sugere-se que o stress poderá despoletar possíveis processos cognitivos e biológicos, levando à inflamação e que por sua vez aumentam o risco da doença. Assim sendo, os eventos em que há exposição ao stress ao longo da vida são os melhores preditores do início de uma Depressão.

Existe uma clara associação entre o stress e o aumento significativo da atividade inflamatória. Este aumento leva a alterações de comportamento incluindo sintomas depressivos como a tristeza, anedonia, fadiga, lentificação psicomotora e exclusão social. Todos estes processos poderão ser relevantes no desenvolvimento de outras doenças com base inflamatória, que tendem a ocorrer juntamente com a depressão tais como Artrite Reumatóide, dor crónica, obesidade, diabetes e doença cardiovascular.

Existem 2 mecanismos fisiopatológicos possíveis em que determinadas adversidades socio- ambientais poderão levar à inflamação: o primeiro envolve o Sistema Nervoso Simpático (SNS) e o segundo envolve o eixo HPA (Hypothalamic-Pituitary-Adrenal).

Fatores associados ao estilo de vida na Depressão

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Quanto ao primeiro mecanismo, a resposta inflamatória é desecandeada pelas citocinas. Estas têm um papel principal, pois para além de coordenaram a comunicação intercelular, podem alterar processos neuroquímicos e neuroendócrinos que têm um amplo efeito a nível fisiológico e comportamental. Libertadas pelas células do sistema imunitário tais como os monócitos/macrófagos, células dendríticas e neutrófilos, pensa-se que as citocinas funcionam de maneira semelhante aos neurotransmissores, na medida em que medeiam respostas fisiológicas e interações entre o receptor-ligando.

Citocinas tais como IL-1, IL-6 e TNF-α atuam em conjunto, coordenando a variedade das funções celulares que levam à inflamação. Deste modo, promovem a diferenciação de linfócitos (células T citotóxicas) que atacam os patogéneos que são introduzidos no organismo durante uma resposta imune. Também promovem um aumento da permeabilidade vascular e adesão celular.

Para além disso, as citocinas também têm efeitos específicos a nível corporal que são comummente reconhecidos como sinais inflamatórios: edema, rubor calor e dor. A nível mais sistémico, um aumento da PCR (Proteína C Reactiva), um marcador chave de inflamação de fase aguda, pode levar a um aumento da temperatura corporal, febre, aumento da frequência cardíaca e respiratória.

Assim sendo, o stress pode modular a secreção de citocinas pró-inflamatórias agudas ou crónicas tanto direta como indiretamente, através da via do NF-kB.

Também foi estudado que as citocinas reduzem os níveis de serotonina e possivelmente outros neurotransmissores relacionados ao diminuir a disponibilidade do precursor da serotonina, um aminoácido essencial, o triptofano, levando a sintomas neurovegetativos caraterísticos da Depressão. 25

Em relação ao segundo mecanismo, em condições normais, o SNS faz a up-regulation da atividade inflamatória através da estimulação dos receptores β-adrenérgicos e o eixo HPA (Hypothalamic-Pituitary-Adrenal) faz a down-regulation através da produção de cortisol.

O cortisol é frequentemente referido como a “hormona do stress” pois também é produzido através da ativação do Sistema Nervoso Simpático (SNS). O cortisol é libertado em resposta à ativação do HPA e promove também a libertação de catecolaminas, permitindo ao organismo estruturar a resposta ao stress.

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Porém, em condições de possível ameaça prolongada ou stressores agudos como ameaças sociais ou em situações de perigo de haver lesões físicas, poderá haver uma resistência aos glicocorticóides, levando a um excesso de inflamação.

Um dos efeitos mais bem documentados e pesquisados quanto à Depressão é o facto de que a exposição ao stress ao longo da vida aumenta substancialmente o risco do início de uma depressão, sendo que 80% dos episódios depressivos major são precipitados pelo stress. Todas as situações como o término de uma relação amorosa, perda de um ente querido, rejeição social, uma situação financeira complicada e problemas de saúde graves são potenciais fatores de risco para o desenvolvimento da Depressão.

Quanto à relação entre o stress e a inflamação, estudos bem documentados associam um pobre ambiente familiar durante a infância e situação sócio-económica a níveis elevados de atividade inflamatória.Vários estudos foram feitos em que se comprova um aumento dos níveis da IL-6 , TNF-α e PCR nestas situações.

O desenvolvimento de novas técnicas usando ferramentas tais como a neuroimagiologia, imunologia e perfil genético, investigam a atividade neuronal, as variações genéticas e expressão de genes.

Foi estudado que os sistemas neuronais envolvidos no processamento da dor física também têm um papel no processamento da dor social, explicando a associação entre eventos de stress social e um aumento da atividade inflamatória. Também foram identificados fatores genéticos como uma regulação do SNP (Sistema Nervoso Parassimpático) através do promotor IL-6, moderando a resposta inflamatória ao stress social. Por fim, foram estudados processos genómicos, incluindos shifts de transcrição associados ao stress, que revelam que eventos de stress social podem levar a ativação molecular da inflamação.

Estes métodos têm sido benéficos neste contexto, ajudando a identificar mecanismos em que existe a conexão entre ambientes sociais externos e processos biológicos internos, que em conjunto promovem a depressão.

Apesar de nunca ser dado grande atenção às caraterísticas psicossociais do stress, existem de facto, evidências de que há uma relação entre o stress, a inflamação e a depressão. Foi então estudado e proposto a Social Signal Transduction Theory of Depression tendo como base todos os pontos referidos anteriormente. É uma teoria que engloba a vários níveis a relação stress- inflamação-depressão – Os eventos de stress social levam a uma atividade das citocinas pró-

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inflamatórias, particularmente a nível de ameaça/rejeição social. Estas sinalizam o SNC, induzindo alterações neurobiológicas e comportamentais que incluem vários sintomas caraterísticos da depressão.

Esta teoria pode ser útil em novas formas de tratamento e talvez até na prevenção da depressão. Os episódios depressivos podem ser extremamente debilitantes especialmente quando envolvem sintomas como anedonia, fadiga, lentificação psicomotora e isolamento socio- comportamental, afetando as relações interpessoais. Sabendo que os sintomas neurovegetativos são mediados através de processos inflamatórios, presume-se que novas intervenções farmacológicas e psicossociais possam ser desenvolvidas, tendo como target a atividade das citocinas, tratando a depressão.

Quanto às intervenções farmacológicas, em estudos aleatórios de dupla ocultação controlados com placebo, verificou-se que antagonistas do TNF-α, como o etanercept ou o infliximab e inibidores da COX-2, como o celecoxib, têm demonstrado aliviar sintomas da depressão.

Nas intervenções psicossociais, existem evidências de que intervenções baseadas na meditação, como a mindfulness-based cognitive therapy, aliviam a depressão e podem também reduzir os níveis de inflamação.

Com base numa extensa avaliação da literatura na área da regulação emocional, parece haver uma forte associação desta com a Depressão, na medida em que a regulação emocional medeia a relação entre fatores de stress e a Depressão.

Os mecanismos de regulação emocional associam-se a uma capacidade geral da mente para modular vários componentes do processamento e expressão emocional (alerta, ativação, avaliação). Esta capacidade permite respostas organizadas, flexíveis e adaptadas face a solicitações do meio interno ou externo, sendo influenciada por caraterísticas biológicas, genéticas (temperamento) e por fatores epigenéticos – a experiência social.

A desregulação emocional tem um papel relevante na patogénese da Depressão. Várias evidências sugerem que a ruminação mental associada ao stress afeta mecanismos cognitivos e neurobiológicos associados à Depressão.

A ruminação é o processo de pensamentos recorrentes e de ideias descritas como “reciclagem de pensamentos” em resposta a afeto negativo, importante na génese dos sintomas depressivos.

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Esta é diferenciada dos pensamentos negativos automáticos pelo seu estilo de pensamento, sendo mais do que apenas conteúdo negativo.23

Existem vários tipos de abordagens terapêuticas que incluem análise e modificação das estratégias de regulação emocional: Emotion-focused Therapy, Mindfulness-based Cognitive Therapy e a Emotion Regulation Therapy (ERT).

A Emotion-focused Therapy engloba três princípios – Emotion awareness, ajuda a tentar perceber os comportamentos que resultam das emoções, emotion regulation, para adquirir uma maior capacidade de auto-controlo, e changing emotion with emotion, em que um estado afetivo não adaptativo poderá ser transformado num estado afetivo adaptativo, através de exercícios de relaxamento ou através da indução de pensamentos positivos.

Basicamente, o objetivo principal desta teoria é ajudar os indivíduos a modificar estados afetivos internos, os seus pensamentos e, consequentemente, os comportamentos que advêm destes.

A Mindfulness-based Cognitve Therapy é uma intervenção inovadora que deriva da prática de meditação budista. Baseia-se fundamentalmente em desenvolver a consciência (awareness) do momento presente. O aumento da consciência da própria respiração é um componente fundamental da meditação baseada no mindfulness. Esta tem demonstrado um aumento da capacidade de ajudar os indivíduos a manter a calma e a responder de maneira mais adaptativa a stressores externos e internos. Outro mecanismo importante em que os estados afetivos negativos são modulados pelo mindfulness é o desenvolvimento de compaixão e apreciação, levando a uma maior tolerância emocional.

A Emotion Regulation Therapy (ERT) é um tratamento recente, mais direcionado para a ansiedade, integrando várias componentes como cognitivo-comportamentais, aceitação, mindfulness e tratamentos baseados nas emoções.

Ao adotar qualquer uma destas estratégias de regulação emocional, verifica-se uma redução de emoções causadas pelo stress, que poderia levar a Depressão.24

 

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